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Complexo do Ombro #18

As funções do Ombro dependem da caixa torácica


Nos últimos posts sobre o complexo do ombro conversamos sobre a importância da escápula para os movimentos do ombro, isso tudo apenas para dizer que os movimentos mais finos que ocorrem nas mãos dependem da estabilidade proximal que devemos ter na cintura escapular como um todo.


Normalmente quando um paciente chega até um fisioterapeuta, ou um educador físico quer prevenir lesões nos ombros, o foco é quase que restrito apenas ao conjunto da cintura escapular, para não dizer apenas nos movimentos do úmero, ao ler toda essa saga até aqui você já deve ter compreendido que para o úmero alcançar uma certa amplitude de movimento é necessário que ocorram movimentos combinados de clavícula e escápula.


Podemos pensar neste tipo de combinação de movimento como uma reação em cadeia, ou uma orquestra de músicos cada um dando suas notas no momento correto para haver harmonia na sinfonia, e se esse pensamento já está fazendo sentido para você neste ponto, não devemos parar de analisar os movimentos do ombro apenas nas escápulas, mas percorrer até os próximos elos de ligação dessa reação, a incisura esternal, as costelas ou melhor o gradil costal e claro a coluna torácica e cervical.


Algumas das ligações acima citadas são musculares e possuímos apenas uma ligação óssea real já comentada em outros posts, a clavícula com a incisura do estero. Como já foi comentado também para haver movimento total de 180º de abdução unilateral, deverá haver inclinação de tronco para o lado oposto, caso tentemos realizar abdução a 180º de forma bilateral, haverá extensão do tronco e aumento da curvatura lombar.


Dito isso fica claro a grande sincronia entre cintura escapular e caixa torácica, estes achados podem ser melhores compreendidos no estudo de Theodoridis e Ruston (2002). compreender a necessidade de mobilidade da coluna torácica, lombar e cervical poderá dar uma visão mais ampla para como realizar reabilitação e prevenção de lesão em seus clientes.


Disfunções na caixa torácica estão diretamente relacionadas a problemas de ombro, e normalmente essas disfunções são assintomáticas e silenciosas, até que um dia aparece aquele problema no ombro, e ele evolui para o pescoço, bem na “charneira”, a junção entre T1 e C7, depois esse desconforto aparece bem no meio das costas entre as escápulas, e você insiste em trabalhar apenas o ombro do cliente? ou observa ele como um todo nesse momento?


As reduções dos pequenos movimentos da caixa torácica, movimentos entre as costelas e os processos transversos, ou limitações nas articulações interfacetárias, todas esses problemas pequenos podem contribuir para uma limitação do movimento global da coluna vertebral, e assim de movimentos do corpo todo.


Você pode fazer o teste, sente-se como um aumento da cifose torácica, forçadamente, quase que como um “C”, tente a abduzir o ombro e perceba as alterações de movimento que ocorrem, quando comparada ao mesmo movimento na postura mais próxima do ideal Kebaetse et al 1999, realizou este estudo e chegou ao resultado que pode haver um decréscimo de 24º na abdução do ombro, e quando testaram a força isométrica a 90º, houve cerca de 16º de perda de força.


Lembre-se que falamos desde os primeiros posts sobre o ombro, que não existe movimento nenhum em plano único, mesmo quando observamos o movimento em um único plano, os ossos acabam por rodar em seu eixo de forma automática, já que não existe osso em linha reta, com exceção do vômer e dos ossos palatinos e ainda de algumas pessoas esses mesmos são em espiral, principalmente o vômer! hehehe


Então é essencial que um pensemos nos movimentos sempre nos três planos, e essa estratégia de atendimento irá ser surpreendentemente útil com qualquer um de seus clientes, principalmente nos movimentos da coluna, onde os movimentos no plano sagital são acompanhados pelos movimentos no plano frontal e transverso.


Avaliar as disfunções do ombro seguido dos movimentos da coluna de forma global seguidos dos micromovimentos da coluna lhe dará maior subsídio para tratar qualquer cliente seu, pense em exercícios que contemplem mais de um plano de movimento e exercícios complementares a ele, decompondo o movimento e recompondo quando o sujeito já estiver apto para realizar os movimentos mais complexos.


Também vale ressaltar que a postura do sujeito a ser tratado, reabilitado ou treinado irá influenciar nos resultados, já que o olhar irá alterar diretamente os movimentos da cervical, os movimentos da lombar geram alterações de todos na coluna torácica, a forma como o sujeito idealiza o movimento do membro superior e como ele executa-o também irá resultar em uma resposta diferente.


Pense sempre na coluna torácica como uma zona de transição de forças, lembre que alterações nessa região por vezes vão transmitir sintomas para regiões distantes, se o pensamento não for de forma global, com os músculos reagindo sempre de forma sincronizada e orquestrada, será difícil de concluir trabalhos duradouros.



 

Theodoridis D, & Ruston S. The Effect of Shoulder Movements on the Thoracic Spine 3D Motion. Clinical Biomechanics 2002, 17: 418-421.

Kebaetse M, et al. Thoracic Position Effect on Shoulder Range of Motion, Strength, and Three-Dimensional Kinematics. Arch Phys Med Rehabil 1999. 80: 945-950.

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