Considerações neurológicas sobre a postura e o movimento
- Fisioterapeuta Lucas Job
- 9 de out. de 2018
- 4 min de leitura
Nem de perto, nem de longe me considero um fisioterapeuta especialista em neurologia, muitas vezes me questiono em que área realmente me especializei, talvez em nada, e saiba um pouco de tudo, mas não tudo, com certeza não tudo.
Em um dado momento de minha formação acadêmica, foi me apresentada a ciência da neurologia, independente se você a interpreta com os olhos de um fisioterapeuta, ou educador físico, ou médico, ou enfermeiro, seja lá qual sua área de formação, não importa, a biologia é uma só, todos os organismos irão se comportar em um PADRÃO, outra palavra que não é boa, mas sim eles existem, os padrões.
Se você pensar em partes básicas, todos somos iguais, todos temos os mesmos ossos, alguns os perdem, ou nascem sem, mas não há padrões ósseos novos, todos temos os mesmos músculos, sim existem pessoas que nascem sem alguns músculos, mas não músculos novos que se inserem em regiões novas; ou alguém que nasce com um tendão de aquiles que se insere no glúteo mínimo, isso não acontece.
Vamos conduzir nossa viagem mais internamente, os processos celulares, estes também são idênticos, em todos os Sapiens , as células são iguais, e se formos mais e mais internamente, chegaremos ao DNA, ele é formado pelas mesmas 4 moléculas em todas as pessoas, então sim somos idênticos em nossas diferenças e semelhanças em nossas divergências.
Dito isso fica mais óbvio estudar os processos neurais de controle de movimento, memória motora, escolha de padrões motores e como a psique altera a postura e vice versa.
Começaremos com conceitos básicos:
Não existe postura estática!
Os seres humanos não conseguem ficar parados quando vivos, (somente após a morte).
Os objetos assumem posições e os seres vivos posturas!
Estes três conceitos devem ser assimilados por todos profissionais do movimento, mesmo deitado dormindo ou tentando ficar o mais imóvel possível um ser humano não pode e nem consegue ficar parado. São diversos processos ocorrendo dentro de seu corpo seja o coração batendo, movimentos peristálticos ou simples fluir de íons da célula para o interstício. (ARNALDO VALENTIM em Palestra 2016 disponível no Youtube)
O Sistema nervoso é composto por 3 bilhões de neurônios e células da glia, suas atividades só sessam após a morte, mesmo dormindo nossos neurônios estão ativos.
Todos conhecem um neurônio, se você não conhece um, coloque no Google e veja como um neurônio é, não há tanto espaço assim neste livro e nem mesmo é o foco central das discussões, descrever os tipos diferentes de neurônios que temos.
Mesmo com tantos neurônios sempre ativos, (aquela história que só usamos 10% do cérebro é balela), durante nossas atividades diárias, não pensamos em nossos movimento, não temos percepção consciente da atividade de cada músculo de forma individual, assim como não conseguimos percebermos o comprimento do nosso fuso muscular muito menos de funções autonômicas.
A postura acompanha o movimento como uma sombra. C. Sherrington 1915
Os movimentos quando aprendidos durante o neurodesenvolvimento motor normal, feito em partes, por exemplo antes dos dois meses é difícil para uma criança levar objetos à boca, devido a reflexos primitivos, então o esforço que ela faz para levar brinquedos ao centro do corpo, é visto como um movimento difícil, onde as vezes as pernas movem junto, o movimento é lento, cheio de contrações musculares desnecessárias, a medida que o gesto é repetido, vamos “dominado” os reflexos, facilitando uma via motora, criando um engrama motor e o movimento se tornar mais fino, mais fluído, mais automático. (Michael Merzenich em Vídeo 2004)
Movimentos podem ser mais automáticos ou menos automáticos. A. Valentim 2016
Movimentos volitivos são equivalentes a movimentos menos automáticos e todos nossos movimentos podem ocorrer desde mais automático a menos automáticos, mais marcados nos caminhos de do córtex ou menos marcados.
Existe muito automatismo em nossa base motora, já nascemos com um programa pré determinado de movimentos, os reflexos, que nos auxiliam e atrapalham, nós apenas sobrepujamos ou melhor, nós dominamos os reflexos, mas eles sempre estarão lá, sempre, SEMPRE, em qualquer ato motor executado (Bobath 1978, e Kabath 1956).
Estes reflexos, apresentam-se em alterações de tônus mesmo no adulto sem problemas neurológicos, especialmente durante ajustes posturais das várias partes do corpo enquanto estamos agindo.
Então, o comportamento volitivo, que quer dizer voluntário, espontâneo, só é possível com a incorporação de automatismos multimusculares, como exemplo, quando um jogador de basquete quer acertar a bola na cesta ele não pensa no seu movimento de braços e pernas, mas sim em que local do espaço ele deve se colocar em quadra para lançar melhor a bola ao alvo, o movimento do arremesso de mãos e pés, o salto, e o movimento de pulso para o arremesso, são movimentos automáticos, ele não precisa calcular o peso da bola nem a distância para sexta, estes músculos são totalmente automáticos.
Os movimentos automáticos são necessários para as várias finalidades dos comportamentos motores e da nossa luta contra a gravidade, Eles garantem qualquer postura que desejamos adotar contra a gravidade.
-Mas porquê escolhemos certas vias motoras em detrimento de outras?
Referências
Sherrington C. S.,Sowton S. C. M., Observations on reflex responses to single break-shocks, The Journal of Physiology, Volume 49, Issue 5, July 5, 1915 Pages 331–348.
Michael Merzenich Sobre Plasticidade Cerebral 2004
https://www.ted.com/talks/michael_merzenich_on_the_elastic_brain?language=pt-br#t-291161
BOBATH, B. Atividade Postural Reflexa Causada por Lesão Cerebral. São Paulo: Manole, 1978.
Kabat 1968 é citado por: Margaret Knott and Dorothy E. Voss, Proprioceptive Neuromuscular Facilitation: Patterns and Techniques, 2 ed, 1968
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