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Dor e Respiração: Uma Revisão Sistemática parte: 01


Artigo Original: Pain and respiration: a systematic review Hassan Jafari, Imke Courtois, Omer Van den Bergh, Johan W.S. Vlaeyen, Ilse Van Diest


Tradução Livre: Lucas C. Job



Resumo:


As técnicas respiratórias são comumente usadas para aliviar a dor. Apesar de seu uso frequente, surpreendentemente pouco se sabe sobre sua eficácia, bem como seus mecanismos fisiológicos subjacentes. O propósito desta revisão sistemática é resumir e avaliar criticamente os resultados dos estudos existentes sobre a associação entre respiração e dor e destacar um mecanismo fisiológico potencial subjacente à conexão respiração-dor. Um total de 31 publicações entre 1984 e 2015 foram recuperadas e analisadas.

Os artigos foram classificados em 4 grupos: 1-estudos clínicos e 2-experimentais sobre o efeito de uma recuperação, 3-estudos clínicos sobre os efeitos das técnicas de respiração na dor e 4-estudos experimentais da influência de várias formas de respiração na dor induzida. Os achados sugerem que a dor influencia a respiração aumentando seu fluxo, frequência e volume.

Além disso, um ritmo de respiração mais lenta está associado à redução da dor em alguns dos estudos, mas faltam evidências que elucidam os mecanismos fisiológicos subjacentes a este efeito.

Aqui, nos concentramos no potencial papel do sistema cardiovascular na modulação respiratória da dor. Pesquisas adicionais são definitivamente justificadas.


Introdução

A prática de técnicas de respiração é tão antiga quanto próprio o Yoga, algo em torno de 2000 anos atrás. Controlar cuidadosamente a respiração é um dos principais princípios do Yoga (Pranayama).


Ao lado da meditação e relaxamento, as práticas respiratórias são comuns como técnicas terapêuticas no controle de vários sintomas e condições, incluindo angústia, ansiedade, pressão arterial elevada (PA), asma e dor.

Especificamente, no controle da dor, a respiração lenta e profunda (RLP) tornou-se rotineiramente utilizada em cuidados clínicos e hospitalares para pacientes com dor.

Apesar dos muitos usos das técnicas de respiração, sua eficácia e os mecanismos de ação permanecem incertos.


Existe relação de bidirecional entre dor e respiração, em primeiro lugar as alterações respiratórias muitas vezes ocorrem em resposta à dor: um suspiro inspiratório com uma subsequente resposta de oclusão da expiração em um movimento súbito e único em frente a dor aguda, seguida de uma longa expiração aliviada com fluxo laminar quando a dor é removida ou hiperventilação na presença de dor persistente e incontrolável.

Já em 1940, Finesinger e Mazick foram pioneiros na pesquisa sobre esse tema, explorando o efeito de estímulos dolorosos na respiração em pacientes saudáveis ​​e "psiconeuróticos".

Esses autores encontraram alta variabilidade nas respostas respiratórias provocadas pela dor, com a maioria dos participantes saudáveis ​​mostrando aumento da profundidade respiratória e aumento moderado no volume respiratório mínimo.

Em particular, o RLP tem sido usada, como uma intervenção terapêutica autônoma ou como componente de intervenções mais abrangentes, como relaxamento e Yoga. Três artigos de revisão anteriores abordaram o efeito do relaxamento na dor, mas, até o momento, nenhuma revisão disponível que examina especificamente os efeitos das intervenções respiratórias sobre a dor.

Como um número notável de estudos clínicos e laboratoriais sobre a interação mútua entre dor e respiração foram publicados após 1984, o objetivo desta revisão foi resumir a literatura sobre a associação bidirecional entre dor e respiração em pacientes clínicos (pacientes com dor) e experimental (Pessoas saudáveis). Os artigos publicados podem ser categorizados em 4 domínios: (1) estudos experimentais sobre o efeito da dor na respiração, (2) estudos clínicos sobre o efeito da dor na respiração, (3) estudos experimentais sobre o efeito da respiração na cabeça e (4) estudos clínicos Sobre o efeito da respiração na dor.

Aqui, buscamos realizar uma revisão sistemática da literatura sobre a associação entre dor e respiração e resumir e avaliar criticamente os resultados em cada um dos 4 domínios de pesquisa.

Metodologia

Foi realizada uma busca nas bases de dados do Mediline e Embase, em artigos com os termos combinados “Pain” e “Respiratory”.

Segue logo a baixo a imagem que descreve os procedimentos para inclusão dos estudos na análise.


Achados dos efeitos da dor na respiração


Dos 9 estudos experimentais resumidos na Tabela 2; 4 estudaram o efeito de um estímulo de dor cutânea cutânea de curta duração (estimulação eletrocutânea ou incisão cirúrgica da pele) na respiração.


Curiosamente, um padrão consistente de resultados emergem desses estudos, mostrando que a dor cutânea aumenta o fluxo inspiratório, seja pela diminuição tempo inspiratório, ou aumentando o volume inspiratório, ou ambos.


É pensado que o fluxo inspiratório, ou o aumento do volume inspiratório é em resposta ao Mecanismo de acionamento inspiratório, que determina a intensidade de a inspiração ou o DRIVE INSPIRATÓRIO.


Os achados sugerem que o aumento de fluxo inspiratório em resposta ao estímulo doloroso cutâneo agudo parece ocorrer involuntariamente porque é instantânea, também ocorre sob anestesia geral.

Cinco estudos investigaram os efeitos de outra forma de dor mais tônica e sustentada. Os achados nesta área também são surpreendentemente consistente. Todo estudo que mede tanto o tempo quanto o volume componentes da respiração em condições de dor prolongada.


Relatou um aumento na ventilação minuto, que é a quantidade de ar que respira e em 1 minuto, ocorreram aumentos induzidos pela dor na ventilação/minuto e estes achados parecem resultar da respiração mais profunda,ou da mais rápido respiração, ou uma combinação de ambos.


Estudos Clínicos


Foram relatados em estudos, alterações no padrão respiratório de pacientes com dores clinicamente comprovadas, ou seja, que não foram provocadas de forma arbitrária.

A maioria destes estudos foi desenvolvida para avaliar a dor em pacientes que não podiam falar como bebês, estudos que avaliaram a dor através da respiração, afirmam que ocorrem alterações na média inspiratória (relação tempo de inspiração/expiração), ou redução na complacência mecânica da respiração.


Alguns estudos ainda avaliaram alteração após a analgesia da dor e as alterações nos padrões respiratórios.


Em especial ressaltamos o estudo de Glynn et al. (1981) cujo o foco principal não era avaliar a respiração, mas acabou por observa-la, onde há um relato de um aumento no padrão de hiperventilação em pacientes com dor crônica que diminui seu padrão após a redução ou alívio da dor.


O que os artigos sugerem é que em pacientes com dores crônicas o uso do padrão hiperventilatório é para reduzir metabolicamente os níveis de gás dióxido de carbono no sangue (hipocapnia), isso é consistente com os achados em outros estudos, onde foram observados não apenas um aumento no padrão ventilatório mas também um aumento nos incursos respiratórios por minutos quando foram induzidos a dor crônica.


De qualquer forma a maioria dos estudos não mediu o consumo de dióxido de carbono arterial, e estes achados não passam de sugestões, o que podemos dizer com certeza é que a dor aumenta o estresse ventilatório como sendo essa a resposta mais típica em situações como desconforto, medo e é claro dor.


Discussão


Vários autores propuseram que o aumento da ventilação ou hiperventilação durante a dor aguda reflete o componente respiratório da resposta de luta ou fuga, preparando o organismo para um possível ataque ou lesão.


A hiperventilação aguda também pode ativar o sistema adrenérgico e opioide endógeno, embora ainda não esteja claro se e como a hiperventilação pode ser funcional em condições de dor crônica.


A hiperventilação crônica é geralmente considerada uma condição patológica, pois desregulam os processos fisiológicos básicos no corpo como tamponamento e pressão arterial.


O trabalho anterior de nosso grupo sugeriu que a hiperventilação em pacientes que sofrem de fadiga crônica resulta de sentimentos de incontrolabilidade (vide tradução livre – seria algo como ansiedade), e não da própria dor.


A este respeito, é interessante notar que a hiperventilação também ocorre em antecipação à dor sem qualquer estimulação dolorosa real. Veja vídeos de pessoas indo tirar sangue, ou realizar algum esporte radical.


Assim, em contraste com o aumento aparentemente reflexivo do fluxo inspiratório em resposta a dor aguda e cutânea, os efeitos de hiperventilação associados a formas crônicas ou mais sustentadas de dor aguda podem ser menos específicos para a dor.


Esses efeitos de hiperventilação não parecem depender da estimulação dos receptores nociceptivos, mas sim pode refletir a influência de sentimentos de medo, pânico e ansiedade em resposta a um evento aversivo potencial e/ou real, como a dor.

Infelizmente, os mecanismos neurofisiológicos precisos subjacentes a respostas respiratórias a dor aguda, bem como a dor relativamente contínua e crônica não são bem compreendidos no momento.

Estudos que testam criticamente mecanismos potenciais são claramente necessários.


Em última análise, o conhecimento de tais estudos ajudará a promover e validar o desenvolvimento de ferramentas clínicas avaliando as alterações respiratórias como indicadores de dor em valores não verbais Indivíduos.


-- Continua no próximo artigo --


Aviso Legal:

*Este artigo é uma tradução livre, criada por Lucas Job, Fisioterapeuta, CEO do Projeto inFluir, com a única intenção de levar conhecimento para pessoas que não possuem fluência na língua Inglesa; o artigo original pode ser acessado em:

http://journals.lww.com/pain/Abstract/2017/06000/Pain_and_respiration___a_systematic_review.2.aspx

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